Sem Escalas
- por Romano Seguros
- 14 de mai. de 2020
- 2 min de leitura
Em rotação, a hélice curvava o equilíbrio do ar. O pequeno avião começava a taxiar. Na tenacidade de um cabo apenas seguíamos, a reboque.
Segundos depois, a pista se desenhava na linha reta. No horizonte, o céu era o nosso destino. A hélice agora ganhava mais velocidade, o cabo repuxava e, centenas de metros depois, a vastidão do ar.
Nela, o nosso primeiro movimento era o ascendente e gradualmente alcançávamos a altitude. Lá no seu alter, já na posição horizontal o cabo se desprendeu. Agora eram os ventos quem conduziam aquele sobrevoo descendente. Sem resistência, sem escalas, era a liberdade de planar.
Ao lado, à esquerda, no baixo relevo, surgiam o verde intenso da mata tropical e, da vida cotidiana, os seus esboços. No alto relevo, nascia, exposta, a silhueta vulcânica da ilha, num entrecortado de contrastes.
À direita, o Pacífico comovia pela sua esteira de ondas infindáveis que morriam no clarão. Era verão e, contra elas, ao invés, das pranchas e surfistas, eram as velas e os winds quem rasgavam o oceano.
Na linha tênue, no sertão, sobre um tapete verde era uma bola imperceptível ao nossos olhares que dava dinamismo ao jogo. Azul contra vermelho, cavalos e seus cavaleiros lutavam entre trotes e tacadas. Em bloco, o contra-ataque e, no outro extremo, era um gol.
A velocidade do som subtraiu a paz dos ouvidos. Os olhares, no horizonte, perdidos, buscavam o motivo. Diferentemente da fragilidade daquele planador, eram os caças da marinha quem guardavam aquele perímetro num exercício de combate.
Debaixo do rastro deles, as ondas continuavam a seguir os ventos da brisa e, do outro lado, apareceu a pista. Mais um pouco de verde, mais um tanto de azul e a altura findava os seus últimos metros, o solo e a linha, era o aterrar. Acabavam ali, as vertigens do North Shore de Oahu, fim de voo.
Foto: Fabrizio Conti @unsplash
Meu nome é Guilherme Frossard Romano. Sou paulistano de coração. Escrevo, fotografo e nas horas vagas administro empresas. Formado pela ESPM tenho predisposição pelo cinema e pela literatura latino-americana. Na minha cabeceira agora descansa o livro: Confesso que vivi, do insuperável Pablo Neruda. Meus vícios, não necessariamente nessa ordem, são um bom café e viajar pelo mundo.
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